quarta-feira, 25 de maio de 2011

Carta de um Amor Suicida.

São dezessete andares. E o chão vai ficando um pouco mais perto a cada segundo. Eu percebo olhares me encarando enquanto minha vida está quase no fim, alguns surpresos, outros atentos aos detalhes. Uma senhora de cachecol feito à mão finge estar me assistindo, mas percebo em um curto momento que ela não enxerga bem sem óculos. Mais alguns metros e estarei na metade do caminho. Metades me atraem, querido, você deve lembrar bem disso. Aqueles meio termos da nossa relação, era um bem meio ruim, uma felicidade meio triste, uma lágrima meio feliz. E a gente fez de tudo pra se encontrar em meio aos desencontros. Alguém do décimo segundo andar tentou agarrar a minha mão. Queria que fosse você. Vejo pela sacada do andar seguinte, um homem triste, assistindo sua televisão. As pessoas vivem na falta de alguém, nunca se preenche essa saudade, essa necessidade de um aconchego. Eu tinha sonhos de casar e ter filhos, querido, e você os sustentava. Não sei ao certo se te odeio por isso, ou se te amo um pouco mais. A única coisa que sei é que só desejo o seu colo agora, sua lágrima escorrida enquanto eu beijava o seu rosto e esse cheiro de perfume forte. A cada andar ímpar que eu passo, lembro-me de você e aquela sua mania irritante de detestar os números pares. E de certa forma me arrependo um pouco por não ter te dado um adeus de forma digna. Queria ter pedido a alguém para retirar o meu corpo do chão antes que você chegasse, mas talvez o desespero te faça bem. Essa ponte que nos separa agora é grande e tão simples. Espero te ver em sonho nos dias de visitas. Morrer não vai doer, querido, eu sinto isso. Faltam três andares e não me arrependo de nada nessa vida, muito menos desse nosso amor que me fez fazer todas as loucuras dos últimos meses. Eu acho que ainda tenho tempo para te dizer algo. Lembra querido, quando dizíamos que nosso amor atravessaria a eternidade? Pois então, eu te espero do outro lado, e existem tantos prédios por aí.

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